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27 de out. de 2008

Além do treino fisico

Em Brasília conseguimos uma fama através dos treinos fisicamente absurdos, e da resistência que apresentamos sempre que vamos à algum lugar. Mas a maior parte dos nossos treinos físicos é com inúmeras e muitas vezes injustificáveis repetições, não de técnicas, mas de exercícios puramente físicos, como os 100 muscle-ups, ou as 500 barras. Qualquer pessoa que entenda um pouco mais de treinamento físico trataria essa quantidade absurda de repetições como bastante prejudicial para o rendimento físico de um atleta(leia-se qualquer pessoa que treine para ter alguma melhora em desempenho, Mas eu vejo isso por um outro lado completamente diferente e bastante benéfico para quem realiza esse tipo de treino absurdo com metas *quase* impossíveis.

A Principio devemos saber claramente que você executar exercícios por várias horas seguidas e um exagerado numero de repetições acaba gerando uma perda considerável de massa muscular. Seu corpo após um determinado tempo de exercício passa a utilizar massa muscular como combustível, fazendo com que aquele excesso seja prejudicial a sua performance futura. Até ai se torna contraditória essa forma de treino que eu tanto defendo, mas para mim esse tipo de treino vai muito além do ganho físico possível, o grande ganho é completamente psicológico.

Eu consigo comparar a velha guarda do Parkour de Brasília (aguarde post sobre isso) com os novos praticantes, e traçar uma diferença muito clara de comportamento, e desenvolvimento mental em relação aos treinos, e ao parkour em si. Mesmo não falando de nível técnico, podemos notar pelo “mindset” que os praticantes mais antigos possuem um ponto de vista bem mais agressivo em relação aos treinos, e um comportamento muito mais bruto e determinado do que os mais novos.

Quando você decide que vai alcançar uma meta absurda (ou idéia imbecil como chamamos carinhosamente) todo o desenvolvimento do início ao fim, depende do seu mental, em uma série de 100 Muscle-ups, em que você decide que vai fazer de 3 em 3, as três primeiras repetições são tortuosas “3, faltam 97“, e concluir isso depende apenas e unicamente de uma coisa, sua capacidade de se auto-motivar. Em seguida você continua suas repetições até chegar mais ou menos a 25 ou 30 repetições, então você já começa a se sentir fisicamente exausto, e a tendência é aumentar o intervalo entre as séries, o que torna cada retorno ao exercício mais doloroso. Chegando na metade do objetivo, você inicialmente sente um alívio, quando se da conta que já fez metade do que foi inicialmente proposto, mas logo em seguida você sente uma súbita desmotivação, por pensar que tem que fazer tudo que você já fez até agora, só que cansado, ai que a maioria desiste. Chegando no final, faltando umas 20 ou 10 repetições, você começa a tirar força de onde não tem, se esforçar tanto que acaba saindo mais fácil do que quando estava chegando a metade, e uma verdadeira maré de motivação surge novamente, você está terminando! Ao final de tudo isso a tendência é sentar e pensar de uma maneira bastante reflexiva em tudo que você passou, A sensação de satisfação aparece, e abre espaço para uma boa fonte de orgulho, passando alguns minutos, você se sente tão bem por ter realizado aquilo que acaba se sentindo completamente pronto para fazer de novo. Eu descrevi basicamente as sensações que eu sinto quando faço alguma série do tipo.

É muito difícil você achar alguém que faria isso 100% feliz o tempo inteiro sem refletir o que você está passando no momento, esse momento de reflexão durante o exercício é o que vai te trazer o principal ganho, o mental.

Ao concluir uma meta grande, aprendemos sobre nós mesmos, sobre o quanto agüentamos, e quanto somos capazes de suportar, entender qual é seu limite físico e mental ajuda a quebrar barreiras inimagináveis, no treino e na vida. É fácil dizer que não conheço uma forma melhor de aprender sobre persistência, e determinação do que cobrar a si mesmo alguma coisa, se forçar a concluir um objetivo, Algo que não depende de ninguém, e que não vai acrescentar nada a ninguém, só a você. O Mais doloroso é lidar com você mesmo, saber que você não precisa fazer aquilo, que pode ir pra casa, tomar um banho e comer, mas se policiar a ponto de renegar tudo, e terminar o combinado entre você e seu espírito, e mais a frente, você vai pensar durante alguma dificuldade “já fiz coisas muito mais intensas que isso, isso é fácil“ e qualquer desafio passa a parecer menor perto da sua determinação e persistência.

Um amigo certa vez me falou uma frase que ajuda a explicar isso. “Eu só coloco meu chapéu aonde eu alcanço“. Esse tipo de treino te ensina muito bem quão alto você consegue colocar seu chapéu.

6 comentários:

Pedro Santigas disse...

Muito bom. Me lembrei daqueles tempos em que havia uma galera aqui em Brasilia extremamente unida em pró da frase "a dor educa", entre outras hahaha..
Hoje os tempos são outros, e entendo perfeitamente quando vc fala da diferença de ideias entre os "velha guarda" e os mais novos.É aquela coisa mesmo de seleção natural, tem muita gente que nunca vai entender, e isso nem é feito pra todo mundo entender, mas bem aventurados são os que entendem.

abraços

Ícaro Iasbeck disse...

"que os praticantes mais antigos possuem um ponto de vista bem mais agressivo em relação aos treinos, e um comportamento muito mais bruto e determinado do que os mais novos."

Adorei!

aaah, que saudade das postagem do Beto :D

Abraço!

Mauricio disse...

Mano eu lembrei de mts das nossas séries aburdas agora...meus 1000 lands q quase me mataram ahuah sofri horrores!!Boa beto..belo post!!

Rachacuca disse...

"idéia imbecil"..
lembro de várias...
jahejaheajhjah...

Boa, Beto...

Jarbas Rodrigues disse...

extremamente motivante isso...
10 min. atras eu coloquei a polibarra aqui na porta, pra fazer algumas series de climbs, planches, etc.
sentei pra ler isso, impressionante como alguns minutos de leitura podem mudar completamente sua forma de agir, pensar treinar.

valeu, Beto.

Anônimo disse...

Eu nunca consegui enchergar este ponto-de-vista, mas realmente aquele finalzinho do parágrafo fez acreditar nisso.

"e mais a frente, você vai pensar durante alguma dificuldade “já fiz coisas muito mais intensas que isso, isso é fácil“ e qualquer desafio passa a parecer menor perto da sua determinação e persistência."

Mto bom cara. Parabéns mesmo.